17.4.25

Wicca e a Virgem — C.I. #08

Cá estava eu fechando a postagem Redentora da Humanidade?, que não recomendo ler sem que antes tenha lido essa aqui, qual seja, Devoção Mariana: Olhar Maria e Enxergar Jesus, quando me deparo com uma coisa bem doida: Nossa Senhora recebendo um suposto culto de “deusa” na Wicca!
1. Mas o que é Wicca? Deixaria o próprio Raymond Buckland (1934-2017), primeiro “wiccano” público, explicar através do tratado que escreveu, chamado “O Livro Completo da Bruxaria”, porém, sendo demasiadamente chato, resume-se em “mimimi a Igreja”, “mimimi o Arcebispo”, “mimimi o Papa” dentre outros “mimimis”.

     Definição de Wicca

2. Buckland na verdade posiciona a Wicca como uma arte, “religião de amor e alegria”, mas não consegue traçar nenhuma origem válida para além daquilo que foi considerado como prática de bruxaria pela Igreja Católica através do Papa Inocêncio VIII, conforme a bula Summis Desiderantes Affectibus, que deu infelizes poderes sem limites, basicamente, para todo tipo de maluco causar escândalos de pirotecnia no couro alheio. Entretando, engana-se aquele que pensa que muitos dos feitos das bruxas e bruxos do século XV fossem coisas bestas, pois já eram previstas como crimes pelas autoridades seculares, incluindo aquela espécie de feitiço que retorna ao presente, ao menos no país, pela ADPF 442, conforme explicada na Carta Inquirida #07, qual seja, matar bebês ainda dentro de ventres (ou já do lado de fora, paridos). Além disso, difundiam a prática da homossexualidade como parte ritualística e a inibição da procriação como forma de destruição do Matrimônio, embora na magia sexual se concentrassem às iniciações dos membros ou manutenções de feitiçarias, coisas que pelas sociedades modernas foram assimiladas, sobretudo na estimulação da hipersexualidade através do cinema e música, fazendo crescer o número de gravidez precoce e a busca pelas clínicas de aborto. Contradições que, sem sombra de dúvida, cooperam com o mal. Não vou nem trazer o que é posto no Malleus Maleficarum, escrito por Heinrich Santiago Kraemer (1430-1505) e Jakob Sprenger (1435-1495), ambos monges da Ordem dos Pregadores (sendo apenas um dentre outros motivos pelo qual passou a receber os maiores ataques desde então), pois nele, por uma imperfeição contextual ou proposital ocultação, carece dos códigos citados, civis ou canônicos, ao menos em algumas edições, impossibilitando sua confiabilidade. Não tem, integralmente, minha particular aprovação, para que fique bem registrado como termo consciente, pois, através do “Martelo das Bruxas”, essencialmente desprovido de cristianismo, verdadeiros satanismos foram empreendidos. Neste ponto, embora muitas pessoas tenham assistido ao “Nefarious” no Brasil, especialmente pelas indicações de Padre Paulo Ricardo e tantos outros sacerdotes (tentando mostrar como essa coisa funciona), talvez ainda lhes sejam complicadas as questões versadas a respeito das verdadeiras possessões demoníacas, uma vez que, sabendo que ali age uma entidade, mesmo assim buscam condenar o possuído na vã tentativa de destruir o demônio. Daí são, não à toa, apelidados de “medievalistas” (como se isso fosse um xingamento) ou de “inquisidores” (como se soubessem o significado deste termo, embora a intenção esteja em xingar). Discordo dessas alcunhas, mas sei que certamente condenariam, seguindo as opiniões heréticas de determinados influencers do Instagram, até uma santa e doutora da Igreja Católica — explicarei isso mais adiante.
Até nisso ele não define sua crença em caldeirões de feitiçaria e vassouras voadoras sem se opor ao que advém da Santa Igreja.
3. Queria muito ir direto ao ponto, mas por Buckland ter enfiado algumas questões eclesiásticas na tentativa de encontrar uma definição danosa à Santa Igreja sobre o que é tal “religião de amor e alegria”, preciso explicar que mesmo as condutas do Papa Inocêncio VIII se dirigiam à diversos magistas daquele momento histórico, como Giovani Pico della Mirandola (1463-1494), que não morreu herege, como alguns dizem, no intuito de condenar as ideias ou mesmo as práticas de subversão da fé, como hoje se vê na “Teologia da Libertação” ou no “Sedevacantismo”. Então, como a Wicca não foi bem definida por ela mesma, termina sendo apenas uma paródia em oposição ao catolicismo, inclusive por expressões ocas como “ela não é sombria como o Cristianismo, com suas ideias de ‘pecado original’, com a salvação e a felicidade possíveis apenas na vida após a morte”. Esta é a visão de um bruxo que não fez nem sua lição de casa, como é aqui feito para tratar da coisa em si. Se lesse ao menos um trecho do Evangelho ou do Catecismo da Igreja Católica, mas não; melhor foi tratar da coisa de forma bem burra. Confirmando sua definição meramente opositiva, acrescenta o “wiccano” o seguinte: “A música da Bruxaria é alegre e cheia de vida, contrastando com os hinos de lamentação do Cristianismo”. Ai, ai... curioso as canções em filmes de bruxas terem uma “pegada” que copia na cara dura os cantos de certa santa, que não vou dizer o nome ainda. Até nisso ele não define sua crença em caldeirões de feitiçaria e vassouras voadoras sem se opor ao que advém da Santa Igreja. Depois, ainda tenta dizer que sua arte mantém conexão com plantas e animais, ainda longe de defini-la, realizando uma apologia ecológica ao melhor estilo da “Pachamama”... quando me lembro da doutora que bem estudou e teceu teses em plena “Idade das Trevas”, que é tão depreciada por essa gente, acerca de botânica, minerais, tratando até mesmo da medicina. Tsc, tsc tsc. Se os “medievalistas” e “inquisidores” modernos, geralmente “Sedevacantistas”, portanto cismáticos, tivessem uma máquina do tempo e voltassem à época dessa monja com uma cópia do “Martelo das Bruxas”, sei não...

     Nem todo wiccano sabe disso

4. Verdade que existem até conselhos de aparências proveitosas em “O Livro Completo da Bruxaria”, provando que mesmo a pessoa não querendo, praticar o bem é inerente ao desejo do Criador, mas que, ainda no início do texto, quando tudo parecia melhorar, Buckland, mostrando que não deseja realmente nada de Deus, entrega tudo em nome da Thelema ao tratar da filosofia ou “doutrina máxima” da Wicca, que pode ser aceita como definição: “Faça o que quiser, mas não prejudique ninguém”. Finalmente o discípulo de Aleister Crowley (1875-1947) se apresenta, replicando, porém, noutros termos, aquilo que é a lei thelemita, qual seja, “Faze o que tu queres há de ser o tudo da Lei. Amor é a lei, amor sob vontade. Não há lei além de Faz o que tu queres”, que por sua vez foi ditada por uma entidade (Aiwass) ao próprio magista quando estava no Cairo, Egito, que fez registros bem datados e chamou isso tudo de Liber Al Vel Legis ou “O Livro da Lei”, traduzido ao português por seu amigo Fernando Pessoa (1888-1935), também responsável por traduzir os livros de Elena Petrovna Blavátskaya (1831-1891), conhecidamente Madame Blavatsky. Eis uma pequena amostra da introdução: “O Autor chamou a si mesmo de Aiwass e declarou ser o ‘ministro de hoor-Paar-Kraat”; ou seja, um mensageiro das foras que regem esta terra no presente [...]”.

5. Embora Buckland continue sendo considerado o primeiro “wiccano” público, não foi ele quem deu origem à Wicca, havendo antes Gerald Gardner (1884-1964), influenciado não só por Charles Godfrey Leland (1824-1903), segundo certos autores, mas por Crowley, quem realmente deve receber o atributo de “bruxo-mor” da “religião de amor e alegria”, pois quem, além dele, poderia ter melhor introduzido a famigerada magia sexual dentro de uma arte, sem contar com outras coisas? O cara é o “bruxão” e quem falar o contrário, somente digo: veja quem aprendeu com quem enquanto mestre e iniciado na Ordo Templi Orientis — O.T.O. Reparem todos esses entrelaçamentos! Não à toa, quando eu afirmo Todo Teólogo da Libertação é Thelemita e mostro com detalhe a relação entre “Teologia da Libertação”, “Pachamama” e o satanismo dessa gente, fique certo de que se um cristão diz ser adepto dessas coisas, não tem para onde fugir: coopera com o mal e ponto final! Quem tenta fazer a compatibilização da fé com uma crença dessas, desde antes fez sua escolha e decidiu a quem servir, pois está dito: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza.” (Mt 6, 24). E a riqueza na bruxaria não são aqueles aspectos da liberdade aparente que preconizam, mas uma proposta para cooperar com Aiwass ou Satanás, se já não são uma só entidade, ou os desejos mágicos, realizados sob intervenções ritualísticas, não são para ser rico de um poder?

6. Agora que você já sabe que toda Wicca é anticristã de cabo a rabo, como pode existir algo nela voltado à Virgem Maria? Senta que lá vem história — lembra disso? Enfim, tentarei resumir algo realmente entroncado, que é uma questão de grande importância, mas não poderia ser colocada por extenso numa Carta Inquirida, especialmente pela informalidade que ela tem. Primeiramente, mantenho uma particular preocupação com uma expressão que aparenta ser simples de entender: “sagrado feminino”. Entretanto, até que seja de fato estudada sua definição com cuidado, relaciona-se supostamente com uma tradição de culto lunar, o que não é sem sentido ou aquém de outras crenças mais antigas. Então, como de fato as culturas pagãs passaram por modificações durante o processo de evangelização em determinadas localidades, lembrando da árvore de Natal de São Bonifácio no território da Germânia, conforme postagem deste Enquirídio no Instagram, disponível na sequência, não é tão difícil admitir que em uma região que afere o tempo não pelo sol, mas pela lua, certamente poderia cultuar uma divindade relacionada. Existem, infelizmente, vertentes no cristianismo que elevam Nossa Senhora ao patamar de “corredentora” ao ponto de paralelizarem a Economia da Salvação, realizada somente em Jesus Cristo, criando um quinto dogma mariano por uma força que não pode ser devocional, uma vez que, consoante Devoção Mariana: Olhar Maria e Enxergar Jesus, inexiste tal titulação afirmada na Igreja Católica. Dessa forma, vamos supor, apenas, que uma cidade tivesse aderido ao Evangelho, mas sem abrir mão das festividades relacionadas ao ciclo lunar, como quem sempre vai nas missas ao domingo, mas não deixa de pedir doces ou fazer travessuras no Halloween. Daí, eis que uma comunidade, visando resolver este problema, começa a festejar a Mãe de Deus justamente no dia da antiga “deusa” deles. Porém, havendo alguma resistência, neste ponto sem contar com heresias já existentes, intensificam as comemorações, incluindo as relações terminológicas e o escambau, até que realmente a Bem-aventurada seja divinizada ao invés de venerada. Algo mais ou menos assim se observa na “corredenção” que lhe foi atribuída, o que é interessante ao movimento que procura divinizá-la em proveito da subversão do cristianismo. Questão, como dito, que não tem fechamento conclusivo, ainda, mas que provoca a percepção no tocante ao aproveitamento realizado pelo (neo)paganismo a respeito das verdades da fé.
7. E a expressão “sagrado feminino”, quando no âmbito cristão, denuncia os teólogos da libertação, thelemitas, adeptos da suposta religião universal, embora seja satânica, claro, ou os perenialistas, mesmo que possam ser bem católicos em aspecto, que dão à Mãe de Deus um título que não foi declarado e que é complicado de se justificar.

     Wicca em trabalhos acadêmicos

8. Em um trabalho acadêmico, responsável por arrolar uma quantidade interessante de referências da Wicca, dentre algumas, Viviane Crowley, que não parecer ser parente daquele “bruxão”, alguém que observa na “devoção mariana como uma forma de preservar o culto da Deusa no catolicismo”. Espantoso, mas não distante da realidade. Se eu pudesse conspirar ao menos um pouco, associaria de imediato à infiltração perenialista, que tem algum apreço por uma transcendência que supere o tempo e o espaço, onde a coisa se torna muito arquetípica, junguiana, afastando-se pelo “sagrado feminino” o que é realmente importante no cristianismo, que é tão somente Jesus Cristo. Também é possível que tal exacerbação devocional seja consequência de sucessivas heresias que negaram e ainda negam a divindade de Nosso Senhor para que não seja Nossa Senhora a Mãe de Deus, como é claro isso no protestantismo, que por sua vez esteve muito relacionado com figurões que praticaram ao menos um tipo de misticismo no período renascentista, como é o caso de Mirandola, citado no terceiro parágrafo. Assim sendo, imagine o seguinte: uma provável heresia surge da hiper veneração ou idolatria descarada mesmo em torno da Virgem Maria, por uma via, enquanto que, por outra, várias “wiccanas” começam a cultuá-la de maneira apartada da fé. Do ponto de vista de um católico bem formado, nada de novo no front. Todavia, pensando justamente na quantidade de pessoas que recebem péssimas catequeses ou sacerdotes mal formados nos seminários, sobretudo dos thelemitas da “Teologia da Libertação” na América Latina, adoradores de “Pachamama”, não vai ser novidade se relacionarem Theotókos a qualquer bobagem lunar ou até se verem dentre os praticantes de bruxaria, como já existe entre os membros do kardecismo, que bem frequentam centros espírita e procuram as missas aos domingos, ou os macumbeiros, que vão atrás do Preto Velho e depois ao Altar de Cristo na intenção de receberem a Eucaristia. Pense: “Ah! Eu sou bruxa, mas adoro Nossa Senhora”. É o mesmo: “Ah! Eu sou mãe de santo, mas adoro a Virgem Maria”. Isso já ocorre e apenas mudam os nomes.

     Uma santa bruxa?

9. Finalmente, Hildegarda von Bingen (1098-1179), santa e doutora da Igreja Católica, escreveu sobre botânica, minerais, praticou medicina natural, compôs belas músicas e a pergunta que muitos evitam responder é a seguinte: ela foi bruxa? Digo-lhe: não! Nunca a Santa Igreja procurou perseguir mulheres dedicadas a Jesus Cristo, cujas obras se perpetuam, apesar dos trabalhos dessa monja beneditina terem demorado a conquistar a cristandade, muito mais pela carência de publicações do que as possíveis acusações de heresia que cogitam ter recebido. Ao certo, os feitos da Sibila do Reno (apelido que recebeu) extrapolavam as expectativas daquele momento histórico, embora seja importante investigar, por exemplo, que Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1541), chamado Paracelso, ocultou em “A Chave da Alquimia” as informações sobre certas propriedades de plantas já descritas por aquela religiosa há cerca de 350 anos em “Physica”. Ele não só fez isso, como também disse que tal conhecimento só poderia ser revelado aos iniciados, revelando o ocultismo praticado por uma parcela considerável de protestantes, muito embora pudesse ser ele algum bruxo, segundo a “máxima doutrina” da “religião de amor e alegria” e a busca de Buckland por uma ancestralidade que não foi encontrada. Ao certo, os “wiccanos”, mesmo que possam ao próprio modo prestar algum culto à Nossa Senhora, fazem-no em associação com coisas que não sabem. Os livros que acham que ensinam a bruxaria não passam de práticas extremamente comuns, embora danosas, dentro de sendas esotéricas e escolas iniciáticas, de um misticismo umbilical muito recente, ao contrário do que se pensa sobre ser antigo. Infelizmente, preenchem estantes de livrarias e atraem os jovens como se fossem uma espécie de refúgio contra alguma inquisição contemporânea, que até existe, porém, extremamente ineficiente e praticadas por pessoas que mentalmente não estão bem, talvez piores do que os voadores de vassouras.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Cartas Inquiridas #08. Enquirídio. Maceió, 18 abr. 2025. Disponível em https://www.enquiridio.org/2025/03/de-genio-a-eugenista-ci-08.html.

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